
Entre aspas, porque foi o que uma amiga disse, num momento de grande empolgação. Ela havia acabado de sair do consultório de um ortopedista, onde foi diagnosticada com condromalácia em um dos joelhos. “Hein??”. Isso: condromalácia. É um desgaste acentuado da cartilagem que fica atrás da patela (esse ossinho que a gente tem na frente do joelho). Quando ela se desgasta, pode provocar estalos, sensação de “areia no rolamento” (quase morri de rir quando minha amiga falou isso, mas a sensação é essa mesmo: como se houvesse uma areia dentro do joelho, uma crepitação) e também dores intensas. Essa amiga já vinha sentindo algumas dores e foi isso que a levou ao consultório naqueles dias. Os exames clínicos e alguns exames de imagem fecharam o diagnóstico. O tratamento é lento e demorado e pede o uso de alguns medicamentos que não são exatamente baratos. Pelo menos não pra essa minha amiga. E foi por isso que ela abriu o laptop na praça de alimentação do shopping.
“Olha só! Achei um site que compara preços de remédios” em várias farmácias de uma vez só!”, ela me disse animada – e logo depois soltou a frase ali de cima: “Internet é vida!”. Num instante ela tinha o preço dos medicamentos que ela precisaria tomar pelos próximos seis meses (eu falei que era demorado) para tentar recuperar os joelhos. E de fato, a variação entre uma farmácia e outra era bem grande! Claro que não apareceram todas as farmácias ali, já que nem todas disponibilizam o preço dos remédios online, mas apareceram muitas – inclusive algumas próximas de onde estávamos. Fizemos um bom lanche e depois fomos até lá para comprar os benditos medicamentos de uma vez.
Veio pra ajudar
Esse episódio me fez pensar… Há pouco tempo atrás (pouco, mesmo, coisa de duas décadas), não tínhamos essa facilidade toda para descobrir as coisas, obter informações. Essa pesquisa que minha amiga fez em poucos segundos levariam horas, dias para ser feita há vinte anos atrás! Na verdade, há cinco anos provavelmente ainda não existisse uma ferramenta online como essa, que pesquisasse preços de medicamentos de forma tão robusta. Seria necessário ligar pra cada farmácia, ou mesmo ir até elas e perguntar se tinham o remédio procurado e qual o seu preço. Ali, naquela simples tela de um laptop que tem o tamanho de um caderno, conseguíamos informações sobre composição, posologia, efeitos colaterais, onde vende e por quanto. Não é impressionante?
E não para por aí. Existem muitos mecanismos que fazem pesquisa semelhante mas para automóveis. Vendedores expõem seus automóveis online, informando marca, modelo, preço, condições gerais, opcionais, possíveis problemas (apesar que essa informação eu nunca os vi colocar), etc. Até a foto do carro! Igualmente, existem mecanismos de busca por imóveis disponíveis para alugar ou vender, sendo possível especificar a cidade onde ele está, o número de quartos, número de vagas de garagem, presença de elevador e salão de festas… tudo!
Veio pra atrapalhar
Por outro lado, a quantidade estonteante de informações disponíveis na internet nos tornou aficionados por elas. Quantos de nós não passam horas em frente ao computador com uma rede social ou um site de notícias aberto o tempo todo? Sabendo que coisas acontecem no mundo o tempo todo, nos acostumamos a entrar nos sites de notícias mais de uma vez ao dia em busca de novidades. E se entramos de tarde e percebemos que as notícias ali são as mesmas da parte da manhã, reclamamos! “Ora, mas eles não atualizaram nada??”. Aí entramos em outro site de notícias pra ver se ali tem coisa diferente – se tem, ali ficamos; se não tem, de lá partimos em busca de outro site de notícias; Entre um e outro, damos uma conferida na rede social pra ver se alguém postou alguma coisa nova, uma piadinha, etc. Ou se nos chamou no chat.
Com isso tudo, ficamos ansiosos, mesmo quando essa característica não é nativa nossa. Precisamos de mudanças o tempo todo: mudança de informação nos sites, mudança de casa, de amigos, de namorados, de emprego, de ares, de sistema político, de tudo! Mas que mude, porque “dois dias de mesmice mata qualquer um”. E antes, precisava de dois anos sem alteração para alguém ficar incomodado… O jornal de hoje já é tido como velho porque as notícias que ele trouxe já foram divulgadas na internet ontem. Mas as coisas só podem ser apressadas até certo ponto – e esse ponto já foi atingido e não nos basta mais. Mas já foi atingido. Frustrados, corremos aos consultórios de psicanálise, de onde saímos com receituário de ansiolíticos. Aliás, nunca se vendeu tanto ansiolítico como nos tempos atuais! Antes não era assim.
A internet pode fazer parte da nossa vida, mas se ela se torna A nossa vida… tem coisa errada aí. A internet, quando em doses exageradas, também faz mal. Use-a como aliada, não como alimento.