Eu corro desde que me entendo por gente. Ou pelo menos é o que meus pais contavam, orgulhosos do estranho fato de que o filho passou da fase de engatinhar direto para um tipo meio desengonçado de corrida, sem aqueles passos inseguros de bebê. Simplesmente não conseguia ficar quieto, supostamente nenhum cercadinho me segurava e a casa sofreu várias “baixas” em termos de decoração e móveis por conta disso. E assim foi a infância inteira, nunca tive muito interesse por brincadeiras mais paradas, me entediando fácil com jogos de tabuleiro, videogames e diversões do tipo. Meu negócio realmente era correr. Nessa época, claro, não sabia nada sobre pilates.
A coisa começou a virar um hábito sério na adolescência, quando a educação física da escola começa a ficar mais seletiva do que simplesmente juntar as crianças e dar uma bola para brincarem. Comecei a praticar diversas modalidades de corrida nos eventos estudantis da cidade e região, ganhando um monte de medalhas e me divertindo à beça com isso. Acabei não seguindo carreira no esporte, visto que fui seguir outros rumos profissionais, mas a paixão pela corrida nunca me deixou.
Queda
Era sagrado: pelo menos uma hora por dia, independente do clima, eu precisava correr um pouco, geralmente nos belos parques daqui – também nunca fui muito fã das esteiras ergométricas, qual a graça de correr se não for ao ar livre? Talvez por conta de todo o exercício, minha saúde sempre esteve dentro dos padrões; além do bem que fazia para a cabeça, correr também deixava o corpo em dia. E isso durou até o infeliz dia em que fui atropelado.
Resumindo a história, um motociclista tentou ultrapassar um carro pela sua direita, o motorista não o viu, acabou fechando-o sem querer e o rapaz da moto por reflexo invadiu a calçada para fugir da batida – no exato instante em que eu passava por ela. Perna quebrada em três lugares diferentes, algumas cirurgias e um prognóstico nada animador dos médicos: eu possivelmente nunca mais correria na vida, talvez até teria alguma dificuldade dependendo do modo como os ossos se curassem. Eu possivelmente teria ficado pior do que já estava nesse período de recuperação não fosse o Pilates.
Volta
Chama o Pilates de milagre é obviamente um pouco de exagero, mas talvez seja o mais próximo disso que conseguimos chegar em termos de uma recuperação incrível. Após vários meses de trabalho individualizado e esforço progressivo, minhas passadas ficaram bem mais confiantes, além de fisicamente mais corretas. Logo fui obrigado a adotar a anteriormente temida esteira ergométrica em casa, para aos poucos voltar a usar as pernas devidamente – espero que em breve ela possa ser totalmente abandonada e vire um cabide de roupas, sinceramente.
Também já me arrisquei em algumas caminhadas curtas ao ar livre, ainda bem longe da velocidade e da distância que gostaria, mas já é uma tremenda evolução. Quem sabe em breve, com a ajuda do Pilates, eu não consiga acelerar um pouco o passo nesses passeios? Só o tempo dirá, mas a confiança que a prática me proporcionou me deixa bem confiante quanto a isso.
