
Muitas vezes, não conseguimos associar a presença de algo tecnicamente “sujo” como o carvão e algo perfeitamente puro como a água. Entretanto, um dos mais importantes elementos filtrantes é exatamente o carvão. Obviamente não é qualquer um: é um carvão especialmente criado para ser usado como filtro, inclusive nos aparelhos que filtram a água usada na hemodiálise. Talvez você já tenha escutado o nome: filtro de carvão ativado.
Carvão ativado: o que tem de tão especial
É muito comum o uso de pedaços de carvão dentro de geladeiras e congeladores para evitar odores fortes – e este é um bom exemplo de como ele tem capacidade de filtragem (neste caso, de gases). Eles removem os odores porque as partículas que os causam “grudam” nos poros do carvão. Hoje em dia, já se encontram artefatos impregnados com carvão ativado que realizam a desodorização de geladeiras com muita eficiência. Os filtros e sistemas de purificação que ficam acoplados na torneira da cozinha também são de carvão ativado, assim como os sistemas de filtragem de aquários.
O material que no final vai compor o filtro de carvão ativado provém da madeira, assim como o carvão comum, mas também pode ser produzido a partir de ossos bovinos ou casca de coco. O que vai tornar o carvão final adequado para uso em filtros é seu preparo. A matéria-prima deve ser aquecida a temperaturas controladas que ficam entre 800°C e 1.000°C e por um tempo determinado. O objetivo de tanto controle é manter a porosidade adequada para que ele realize a filtragem com o nível de qualidade necessário, especialmente quando se trata de uso medicinal. Os pacientes agradecem.
“Vão filtrar o sangue com carvão??”
Não diretamente, mas de certa maneira… ele vai marcar presença, sim. O processo, de maneira bem simplificada, é o seguinte: o sangue do paciente é drenado para a máquina de hemodiálise e passa por dentro de um filtro, por onde também passa água purificada – só que essa água não mistura com o sangue. É que dentro desse filtro existe uma enorme quantidade de fibras chamadas semipermeáveis (ou seja, não são impermeáveis como uma folha de plástico, mas também não são permeáveis feito uma tira de tecido). São essas fibras que mantém sangue e água separados, através de processos químicos que os impedem de atravessá-las. Através do movimento dos fluxos do sangue e da água (o sangue corre em um sentido e a água segue no sentido inverso), as impurezas do sangue vão passando por essas fibras e seguem dali em diante com a água purificada, que sai do aparelho por uma válvula própria. O sangue limpo sai por outra válvula e é devolvido ao paciente.
O motivo da água ter que ser purificada é exatamente fazer com que ela retenha as impurezas do sangue sem “sujá-lo” ainda mais. Ela deve ser filtrada, desmineralizada e ter o cloro removido – e é nessa parte que entra o filtro de carvão ativado. Seus micróporos atraem e retêm as partículas de cloro da água, deixando-a totalmente livre deste elemento. Importante: não há problema algum em ingerir a água tratada com cloro, como é comum em nossas cidades; porém, a presença deste elemento diretamente no sangue gera reações adversas e elas podem ser potencialmente perigosas em pacientes que necessitam de hemodiálise, que já estão com a saúde bastante fragilizada.
Carvão ativado: o que tem de tão especial